A TRAVESSIA ATRAVÉS DO VALE


l  Pastor Mathias Quintela de Souza  l
“Quem elegeu a busca, não pode recusar a TRAVESSIA”, afirmou o protagonista do clássico Grande Sertão, veredas, de Guimarães Rosa. Jesus veio BUSCAR e salvar os pecadores. Por isso, não podia armar tendas no monte da transfiguração, mas, sim, prosseguir na travessia através do vale em direção à Jerusalém onde seria preso, açoitado, morto e ressuscitado para o nosso resgate. Quem aceitou o desafio do discipulado, e elegeu a busca Reino de Deus como prioridade, não pode recusar a travessia através do vale de lágrimas, mas, sim, seguir resoluto nos passos de Jesus em direção à Nova Jerusalém. O que significa para nós a travessia?
Choque de realidade. Na travessia através do vale, nosso campo de missão, sofremos um choque de realidade. No monte os discípulos ficaram extasiados com a manifestação da glória de Jesus, mas, no vale, foram confrontados com as lágrimas de um pai aflito, com discussões religiosas inócuas e com a incredulidade e impotência dos discípulos diante dos desafios das forças do mal. Nos vales, nas depressões da vida, somos treinados como discípulos de Jesus no contexto da vida real. Jesus não se prende dentro das paredes dos nossos templos nem se amolda aos padrões de um mundo decadente que jaz no maligno, mas vai ao encontro dos miseráveis, dos aflitos, dos famintos e sedentos da verdade, sem distinção de raça, de cor, de religião ou de condição social. E onde estiver o Mestre, ali estará o seu discípulo.
Transformação da realidade. Ao descer do monte, Jesus atraiu a multidão e, de dentre a multidão, um pai clamou a Jesus, com lágrimas, pedindo a cura do filho único oprimido pelo maligno desde a sua infância. Nem os escribas com o seu conhecimento intelectual da lei, nem os discípulos, empenhados na solução do problema, mas deficientes no preparo espiritual, conseguiram libertar o menino do mal que o afligia. Com a sua palavra de autoridade Jesus trouxe cura completa para o menino, alívio para o pai e admiração para a multidão presente. Jesus continua presente no vale de lágrimas transformando a realidade de pessoas que vivem aflitas e exaustas como ovelhas que não têm pastor. Ele continua esta obra pela pregação do evangelho, pelo ensino da Palavra e pela manifestação do poder de Deus na realização de sinais e prodígios. Ele faz isto por intermédio de discípulos que são pedras vivas na construção da igreja como edifício vivo e casa espiritual. Você e eu somos parte da igreja como corpo vivo de Cristo e agentes de transformação da realidade?
A travessia prossegue no caminho do discipulado. Como todos ficaram maravilhados diante de tudo o que Jesus fazia, ele voltou a falar do sofrimento, da morte e da ressurreição que deveria acontecer logo em Jerusalém. O discipulado sem a cruz é ilusão. É cristianismo sem Cristo. Mera religião como as demais. Sem a cruz a salvação tem que ser pelos méritos humanos o que nos levaria ao desespero diante da perfeição da lei divina. Por outro lado, a vida cristã normal significa levar no corpo o morrer de Jesus (cruz) para que a vida de Jesus se manifeste em nosso corpo mortal (ressurreição).
Pedro estava confuso quando propôs a construção de tendas no monte da transfiguração. É nos vales de lágrimas e nas depressões da vida que Jesus nos treina para sermos, com e nele, agentes de transformação da realidade de pessoas no contexto real de suas vidas. A travessia prossegue até chegarmos aos novos e à nova terra nos quais habita a justiça.

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